top of page

Vivendo no Limite: o Corpo na Performance Arte

 

Fala sobre performance arte para alunos de 10 a 14 anos do Colégio Viver (dentro da programação da Semana Temática: Vivendo no Limite) - Artista Palestrante

 

2014, set.

Colégio Viver, Cotia-SP

 

 

 

Cassiano Reis, artista e educador no Colégio Viver, convida Gabriel Brito Nunes para compartilhar seus experimentos e pesquisa em performance arte e não o impõe limites para falar sobre o corpo no limite, sem limites, etc. 

 

Segue aqui o trecho inicial do roteiro preparado por Gabriel Brito Nunes - só como um guia - para a fala, que sempre vira... uma performance em si. A ideia é transformar esse roteiro em um artigo sobre performance arte para crianças.

 

"Vivendo no limite

Olá todo mundo. Eu sou Gabriel Brito Nunes de Matos Silveira Germano Ferreira Correia Oliveira etc. etc. etc. Esse é meu nome, o que carrego em minha certidão de nascimento seguido de alguns outros de outras pessoas que me antecederam e que fazem parte de alguma maneira disso aqui tudo que sou eu. Onde eu começo e onde eu termino, até onde eu vou?

 

Maria La Ribot – Las Distinguidas 1993

 

Essa é Maria La Ribot, em um de seus trabalhos artísticos chamado Las Distinguidas. La Ribot é uma artista que vem da dança mas que trata seu trabalho muito mais como um pintor em seu atelier do que como uma coreógrafa em sua sala de ensaio. Isso por que ela se recusa a trabalhar num espaço neutro e prefere permanecer em contato com as coisas que lhe são familiares. Isso permite que o que quer que desperte o interesse dela, desde a coisa mais elementar, possa influenciar sua prática artística. Ela insiste em ter um contato mais direto com o espectador, na mesma escala que o espectador, por isso do local escolhido para essa performance, Las Distinguidas, ser sempre uma sala de galeria de artes visuais, para proporcionar um contato mais horizontal, sem a hierarquia que um espaço como o teatro gera.

E foi durante a realização dessas práticas que La RIbot resolveu chmar de Las Distinguidas que ela diz ter construído, enquanto artista, seu “próprio território por entre a performance, as artes visuais e a dança.”

 

Quando eu me encontrei com La Ribot, eu fiquei bastante impressionado pela proximidade que o trabalho artístico dela tinha das questões pelas quais o próprio corpo dela passava no momento em que ela estava no processo daquele trabalho específico. Não havia uma receita preestabelecida que ela seguia pra realizar um trabalho depois do outro. Cada trabalho pedia uma disciplina nova de corpo, de esar no mundo e de se relacionar com as coisas e com as pessoas. Embora eu já viesse  tateando esse tipo de relação com meu próprio trabalho na dança, eu precisa da inspiração desse encontro com La Ribot pra tomar a coragem de deixar de lado um pouco a instituição do teatro e ter um contato mais de um pra um com o espectador. Foi um gás que me deu coragem pra definir meu próprio território no limite entre a dança, as artes visuais e a performance.

 

Daí veio f l æ s h: um processo de prática artística e de pesquisa que eu acabei levando pro ambiente institucional da Academia, cursando meu mestrado em Artes Visuais na USP.

 

Gabriel Brito Nunes -  f l æ s h

 

E esse é o momento em que eu resolvi compartilhar com o espectador pela primeira vez essa pesquisa, todo esse processo que começou com uma imagem do nu de calendário de Marilyn Monroe e as imagens provindas da minha vivência com essa vaquinha desde nosso primeiro encontro até sua morte, seu abate dias depois. f l æ s h acabou se tornando um ritual de como eu, me apropriando da presença performática de Marilyn Monroe, conseguiria traduzir essa presença do meu corpo pra uma projeção. Mas a grande ideia por detrás dessa performance é que o espectador era convidado por meio de avisos colados na entrada da sala da galeria e também pelo email-convite a fotografar o quanto quisesse a ação performática. Então, na verdade o espectador passou a performance inteira assistindo a ação pela lente de sua câmera ou do seu celular. E depois aconteceu a performance f l æ s h privé pro vencedor do concurso na sala de minha casa. Que é uma outra estória. Mas que marcou muito forte pra meu trabalho esse limite do que é público e do que é privado.

 

Então, a partir dessa performance, f l æ s h, eu comecei a ser chamado de performer pra valer e meu trabalho começou a se encaixar muito mais nessa coisa chamada performance. Vocês já tinham ouvido falar em performance, em performance art?

 

Pois é, é difícil ter uma definição que agrade a todo mundo que faz performance e que fala sobre performance. Se dizia por muito tempo que performance não podia ser definida e que a característica de uma performance não poder ter definição era A característica da performance art. Mas eu gosto de pensar que performance é historicamente uma ligação singular entre as artes teatrais e as artes visuais, como a representação e o objeto, estivessem sendo plenamente e inteiramente trabalhadas pelas artes performáticas. E performance é a execução literal de uma ideia. Você tem uma ideia, por exemplo:

 

Marina Abramovic – Rhythm 0 (1974)

 

Rhythm 0, de Marina Abramovic, uma das performances mais faladas nos livros que traçam uma história da performance. Numa noite na Galeria de Arte Studio Morra, em Nápoles, na Itália, Marina se posicionou de pé ao lado de uma mesa com vários objetos e se ofereceu passivamente aos espectadores que podiam fazer o que quiser com esses objetos e seu corpo. Na parede havia o seguinte texto: “Há setenta e dois objetos sobre a mesa que podem ser usados em mim como desejado. Eu sou o objeto.” Dentre os objetos, havia uma arma, uma bala, um serrote, um garfo, um pente, um chicote, um batom, um frasco de perfume, tinta, facas..."

bottom of page