O espetáculo expõe o corpo do artista como sujeito e objeto da obra de arte, um corpo particularizado e atento a seu desenvolvimento como ser humano, numa gradativa transgressão de zonas de conforto e da conformidade às instituições de poder. Ao clinicamente transformar o espaço teatral em um cubo branco, Transanima propõe uma experiência tão visual quanto sensual que desestabiliza as barreiras entre a arte e a vida do artista dramatica(l)mente exposto.

Durante os 40 minutos de duração do espetáculo Transanima, o dançarino Gabriel Brito Nunes se dispõe a uma jornada no caminho da feminização. Com o auxílio de um texto autobiográfico, o público é convidado a testemunhar sua dança de mudança de paradigmas. Ele se serve de estereótipos femininos, livra-se simbolicamente de sua genitália e come passas de uva no intuito de injetar uma energia mais feminina no seu corpo.

Aparentemente fracassado em sua empreitada, Gabriel se vinga dos mecanismos de poder que o impedem de desenvolver uma personalidade livre do binarismo homem-mulher ao, literalmente, chicotear sua segunda pele. Num golpe final contra o que o reprime, Gabriel transforma seu opressor em um joguete de seus desejos e, finalmente, convida o público do teatro a encenar a hierarquia entre os que observam e os que são observados.